O Divino Espírito Santo é a terceira pessoa da Santíssima Trindade. Em Santo Amaro da Imperatriz, a festa em sua honra é realizada no Domingo de Pentecostes, em comemoração à Sua vinda sobre a Virgem Maria e os Apóstolos, reunidos no cenáculo, em Jerusalém. O costume de festejar o Espírito Santo chegou ao Brasil com os imigrantes portugueses, ainda nas primeiras décadas da colonização, e pode ser ser encontrado praticamente em todas as regiões do país. No Sul do Brasil, a sua chegada, de forma mais acentuada, se efetivou com imigrantes açorianos, a partir de 1748. Apesar de sua diversidade em cada região, apresentando características distintas, a Festa mantém em comum alguns elementos, tais como: a pomba, a coroa, a bandeira, a coroação de imperadores, entre outros elementos.
Em Santo Amaro da Imperatriz, o ciclo dos festejos iniciados no dia da Páscoa é composto de diversos símbolos, dentre os quais a coroa e o cetro, que deixam de ser “símbolos do poder temporal do ‘imperador’, para constituírem símbolos do próprio Espírito Santo e objetos de veneração e culto”[1]. Além da coroa e do cetro, em Santo Amaro são utilizados os seguintes símbolos:
A pomba significa o próprio Divino Espírito Santo (Mt. 3, 16) em seu símbolo maior. Representa a Terceira Pessoa da Trindade, manifesta no batismo de Jesus Cristo, no Rio Jordão, por João Batista. Em Santo Amaro, a pomba do Divino é esculpida em madeira, policromada, representada com as asas fechadas sobre um mastro.
Símbolo sagrado que representa o Espírito Santo para seus devotos. Retangular, de cor vermelha, em lembrança às línguas de fogo do relato bíblico, apresenta um desenho de uma pomba ao centro. É apresentada no mastro encimado pela pomba, de onde partem dezenas de fitas coloridas, materializando cada um dos SETE DONS do Divino, com suas cores características: azul – SABEDORIA; prata – ENTENDIMENTO; verde – CONSELHO; vermelho – FORTALEZA; amarelo – CIÊNCIA; azul escuro – PIEDADE; roxo – TEMOR DE DEUS. Na bandeira do Divino os fiéis amarram fitas de cores variadas, indicando a graça desejada ou cortam dela um pedaço pedindo especial proteção.
A coroa real é a insígnia do poder temporal. Ela é imperial, lavrada em prata, com cinco braços, cuja junção se dá na extremidade superior onde há uma esfera representando o globo terrestre, e sobre ela, de asas abertas, repousa a pomba, símbolo maior do Divino Espírito Santo. A coroa é colocada por sobre a salva, que lhe serve de apoio é levada durante o Cortejo Imperial pelas ruas da cidade com destino à Igreja Matriz para a Missa da Coroação.
O cetro significa o poder temporal do Rei; representa o poder de mando e decisão. É um bastão de prata lavrada, composto de um punho com algumas saliências, encimado por uma esfera na qual se assenta uma pomba. Na base do cetro é amarrada uma fita vermelha.
Ter uma espada na mão significa glória e respeito. Em Santo Amaro, o Imperador a leva na mão durante o cortejo. Essa espada foi doada por Nemézio Coelho, membro de uma antiga família de Santo Amaro da Imperatriz. Nela há a seguinte inscrição: “Ofereço ao glorioso Santo Amaro por uma graça alcançada: Nemézio Coelho, 15/09/1957”. Nemézio Coelho seria o filho mais novo de um casal e fora convocado para a guerra, e, como era muito fervoroso em sua fé católica, fez a seguinte promessa: se voltasse a sua terra com vida, doaria sua espada à Igreja local. Como isto aconteceu, fez a sua doação durante uma missa e, até hoje, é a espada usada no cortejo pelo Imperador[2].
O Império constitui-se em um local sempre ricamente ornamentado, ao qual se procura dar o aspecto de suntuosidade, é ladeado pelas bandeiras, a Coroa e o Cetro do Divino Espírito Santo, simbolizando que é Dele o reinado, durante o período da Festa. Em outros termos, o Império consiste na edificação destinada, de forma especial, para nela fazer constar o altar do Divino. Santo Amaro já teve a tal edificação. Hoje, na falta dela, o altar do Divino – Império – é montado na parte interna do principal salão onde ocorrem os festejos.
O casal festeiro – também chamado de imperador do Divino – é a figura central nos rituais e organização da festa. O Casal Imperial é o responsável pelo provimento financeiro do evento, assumindo pessoalmente o custeio de parte dos festejos, isto é, pelos trajes da Corte Imperial e pela ornamentação do espaço festivo.
As figuras do Menino Imperador do Divino e da Menina Imperatriz e sua corte relembram o culto popular da Festa de Coroação do Imperador do Divino Espírito Santo, iniciado em Portugal pelo rei D. Diniz e pela rainha Isabel, durante o século XIV. Esse casal é formado quase sempre por crianças ou adolescentes, normalmente filhos dos festeiros ou de seus parentes próximos. O casal que representa o Imperador e a Imperatriz veste-se com figurinos que remetem à Corte portuguesa.
A Corte é composta pelo Imperador e a Imperatriz, os pajens e as damas da Corte (também crianças ou adolescentes), geralmente seis casais, que também vestem roupas que remetem ao século XIV. Essas roupas são quase sempre confeccionadas em tecidos nobres e bem ornamentadas, de acordo com a disponibilidade financeira do Casal Imperial. O Cortejo Imperial é montado obedecendo a uma ordem extremamente elaborada e consignada pela tradição. Em primeiro lugar, vêm as três moças conduzindo as bandeiras do Divino, chamadas de porta-bandeiras. A seguir uma menina (criança) que carrega uma almofada trazendo, em bordados, a pomba do Espírito Santo. Logo após, vêm as damas da Corte e os pajens, sendo que o número de casais varia conforme a deliberação do festeiro. Na sequência, vêm o Imperador e a Imperatriz e, após estes, o casal de festeiros, trazendo o principal símbolo da festa: a coroa. Devidamente constituída, a Corte Imperial caminha solene e pomposamente pelas principais ruas da cidade até a Igreja Matriz para a Missa da Coroação.
Outro ponto de destaque da Festa do Divino são as “massas” em agradecimento ao atendimento de uma promessa geralmente relacionada a questões de saúde. Também chamadas de ex-votos[3], são massas de pão feitas geralmente no formato de uma parte do corpo humano. Assim, é comum encontrar braços, pernas, mãos que são oferecidos simbolicamente ao Divino, em agradecimento à graça alcançada. Esses pães ficam expostos ao lado do Império, numa seção de ex-votos especialmente para tal finalidade destinada, onde são vendidos e em seguida novamente doados ao Espírito Santo. No final da festa, os pães são postos em leilão e arrematados; segundo a tradição, se conservado em casa, trazem abundância e fartura para a família. Há quem afirme que, em casos de necessidade, a massa do divino teria o poder de repetir o milagre da multiplicação dos pães realizado por Jesus.
A tradição de oferecer bolos em datas especiais é antiga, e pode estar relacionada à fertilidade ou abundância e à relevância da ocasião. Para as cortes européias, a altura do bolo demonstrava poder, riqueza e status social; portanto, quanto mais altos fossem, melhor. Em Santo Amaro da Imperatriz, o bolo do Divino é verdadeira obra de arte sendo objeto de admiração. Cortá-lo e dividi-lo entre os fiéis significa partilhar os dons do Divino Espírito Santo.